segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O desejado pragmatismo

Felipe A. Dias
Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP)

Venho desta vez seguir os passos do amigo Bicalho e trazer um breve olhar sobre a crise financeira, sua profundidade e seus impactos sobre o setor de energia.

Olhando especialmente para a economia americana, estamos vendo uma progressiva deterioração das condições de liquidez e oferta de crédito. E de confiança, de uma maneira geral. A aprovação do pacote de US$ 700 bilhões pelo congresso americano, seguida de ações similares em outros países, não surtiu o efeito esperado pela opinião pública, uma vez que está claro aos analistas e agentes do setor que a equipe econômica liderada pela dupla Paulson / Bernanke não sabe exatamente o que fazer com o dinheiro.

A recuperação da bolsa neste início de semana é, sem dúvida, positiva. Mas é cedo para falar em reversão de tendência. Não há mudanças estruturais que justifiquem expectativas de alteração do quadro no futuro próximo. Apenas sinais da extrema volatilidade dos tempos que vivemos. E, nas palavras de um ex-professor da prestigiada Wharton School of Business, a única lição valiosa que tiramos da história é que situações como esta tendem a persistir e perdurar por mais tempo que o previsto.

Diante deste quadro, a pergunta óbvia que nos trago é: que impactos a nova conjuntura econômica e financeira internacional pode trazer ao desenvolvimento da nossa indústria offshore?

A resposta é curta e ainda mais óbvia: muitos. Tudo indica que a restrição de oferta de crédito tem se acentuado para grandes projetos com longo prazo de maturação. Segundo um analista do Banco Mundial com quem conversei recentemente, a carteira de projetos de infra-estrutura do Banco, incluindo petróleo e gás, já foi afetada. Uma série de projetos, desde o desenvolvimento de novos campos até a construção e ampliação de refinarias, especialmente no Oriente Médio e na Europa Oriental, estão parados em razão de dificuldades na captação de recursos. E não há como esperar que o desenvolvimento da nova província do pré-sal não seja impactado, na melhor das hipóteses, com o aumento do custo de capital para a captação de recursos. E o risco de longo prazo associado à deterioração da demanda, e consequentemente do preço, agrava ainda mais o quadro.

Quanto ao preço, será interessante observar que o fenômeno mencionado acima tende a pressioná-lo em direções contrárias, afetando negativamente a demanda, que já vem mostrando sinais de desaceleração a algum tempo, e a oferta, que sofrerá ainda mais com os frequentemente mencionados atrasos na entrada de novos campos produtores.

Mas a questão que me trouxe a este tema diz respeito, mais uma vez, à discussão do marco regulatório para a exploração e produção na nova província. Sigo defendendo a pertinência e a legitimidade do debate, e da reavaliação, como país, da aplicabilidade dos mecanismos atualmente disponíveis para explorar adequadamente os novos recursos. Mas os tempos pedem pragmatismo e equilíbrio. Um desenho regulatório que imponha níveis adequados de controle e da participação do estado sobre a renda produzida. Mas que permita também o influxo de capital necessário para a pesquisa, a avaliação e o desenvolvimento desta enorme área em um ritmo que nos permita, no menor espaço de tempo possível, o avanço em termos de desenvolvimento social e humano que nossa geração vem, por uma vida, esperando.

Nenhum comentário: