segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O decálogo do etanol

Ronaldo Goulart Bicalho
Grupo de Economia da Energia
Instituto de Economia, UFRJ

Saindo do forno, uma publicação do BNDES/CGEE intitulada Bioetanol De Cana-De-Açúcar: Energia Para O Desenvolvimento Sustentável.

Organizada pelo professor Luiz Augusto Horta Nogueira, da UNIFEI, essa publicação destaca, no seu capítulo de conclusão, os dez pontos considerados mais importantes do bioetanol de cana-de-açúcar, que o configuram como uma opção energética estratégica e sustentável, passível de ser replicada e adaptada em outros países com disponibilidade de terras e condições climáticas adequadas.

  1. O bioetanol pode ser utilizado em motores veiculares, puro ou em misturas com gasolina, com bom desempenho e empregando essencialmente o mesmo sistema de distribuição e armazenamento existente para a gasolina. Em teores até 10 %, os efeitos do bioetanol são quase imperceptíveis sobre o consumo dos veículos, que podem, nesses níveis, empregar esse biocombustível em seus motores sem qualquer modificação.
  2. O bioetanol de cana-de-açúcar é produzido com elevada eficiência na captação e na conversão de energia solar (relação produção/consumo de energia acima de oito), com produtividade agroindustrial bastante superior à dos demais biocombustíveis, alcançando perto de oito mil litros por hectare (tecnologia atual) e significativa disponibilidade de excedentes de interesse energético, como biocombustíveis sólidos (bagaço e palha) e, principalmente, bioeletricidade.
  3. O bioetanol de cana-de-açúcar, produzido nas condições brasileiras, mostra-se competitivo com o petróleo ao redor de US$ 50 o barril, com um custo de produção determinado principalmente pela matéria-prima. A tecnologia empregada para a sua produção está aberta e disponível e pode ser, aos poucos, introduzida na agroindústria canavieira voltada para a fabricação de açúcar.
  4. Os impactos ambientais de caráter local associados à produção de bioetanol de cana-de-açúcar sobre os recursos hídricos, o solo e a biodiversidade e decorrentes do uso de agroquímicos, entre outros, podem ser e, em boa medida, foram efetivamente atenuados a níveis toleráveis, inferiores à maioria de outras culturas agrícolas.
  5. O uso do etanol de cana-de-açúcar permite reduzir em quase 90 % as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo de modo efetivo para mitigar a mudança climática. Nas condições atuais, para cada milhão de metros cúbicos de bioetanol de cana-de-açúcar empregado em mistura com gasolina, cerca de 1,9 milhão de toneladas de CO2 deixam de ser emitidos para a atmosfera.
  6. São significativas as perspectivas de desenvolvimento tecnológico na agroindústria do bioetanol de cana-de-açúcar, com aumento da produtividade e do desempenho energético (inclusive na fase agrícola) e diversificação da gama de produtos, com destaque para as rotas de hidrólise e gaseificação, passíveis de serem empregadas no incremento da produção de bioetanol e bioeletricidade. O desenvolvimento adequado de programas bioenergéticos depende visceralmente de sua permanente interação com as fontes de inovação.
  7. Os empregos na agroindústria do bioetanol de cana-de-açúcar apresentam bons indicadores de qualidade e, ainda que a crescente mecanização na colheita de cana-de-açúcar reduza o trabalho braçal, a demanda de mão-de-obra permanece bastante elevada por unidade de energia produzida, em comparação com outras fontes de energia.
  8. A produção de bioetanol de cana-de-açúcar, como desenvolvida no Brasil, pouco afeta a produção de alimentos, com uma área plantada muito reduzida em relação à área cultivada para alimentos e às áreas disponíveis para a expansão das atividades agrícolas.
  9. A agroindústria do bioetanol de cana-de-açúcar articula-se com muitos setores da economia e promove o desenvolvimento de diversas áreas, como a prestação de serviços, a indústria de equipamentos agrícolas e industriais e a logística. O suporte ao desenvolvimento científico e tecnológico é um elemento importante dessa cadeia produtiva, fundamental para assegurar a utilização da matéria-prima com baixo impacto ambiental e elevada eficiência.
  10. São amplas as possibilidades de expandir a produção de bioetanol de cana-de-açúcar, não apenas no Brasil, como também em outros países tropicais úmidos, considerando a disponibilidade de terras não utilizadas ou utilizadas com atividades pecuárias de baixa produtividade e a existência de clima adequado.

Fonte: Bioetanol de cana-de-açúcar: energia para o desenvolvimento sustetantável / organização BNDES e CGEE. – Rio de Janeiro: BNDES, 2008.

Nenhum comentário: